O Oceano caiu na Gota Part - I
15:22
English Below
Pt: Uma vez me perguntaram sobre o que eu
achava ser o sentido da vida, não me lembro qual a resposta mas lembro da cara
de desalento da pessoa ao dizer que se calhar não acreditava na ideia de que a
vida tenha que ter um propósito.
Penso, na verdade, que a nossa existência
não tenha por si mesmo muita lógica, e quem achar que existe um caminho
coerente está a se predispor para uma sucessão de desilusões.
Como seres conscientes, esses são
pensamentos que fazemos frequentemente. Quem nunca se perguntou "o que
estou aqui a fazer?" sentado no trânsito de uma cidade grande, numa aula
chata, ou a levar com o set do dia na cabeça? O interessante é que estas
questões só nos vêm à mente nos momentos
em estamos aborrecidos ou privados de fazer aquilo que mais gostamos.
En: I was once asked what I felt was the meaning of life, I don't remember the answer but I remembered the person's face of dismay when he said that maybe he didn't believe in the idea that life has to have a purpose.
I actually think that our existence does
not have much logic in itself, and anyone who thinks that there is a coherent
path is predisposed to a succession of disappointments.
As conscious beings, these are thoughts
that we often do. Who hasn't asked themselves "what am I doing here?"
sitting in traffic in a big city, in a boring class, or having the day's set in
your head? Interestingly, these questions only come to mind when we are bored
or deprived of doing what we love most.
Mas eis que recebo uma chamada do Matchu a propor uma viagem.
Para alguém como ele, que vive para estar na estrada a explorar diferentes
lugares, esses devem ter sido tempos horríveis. A ideia era ir até essa onda
onde ele já tinha estado e que gostaria de voltar a surfar. O lado racional e
pés assentes na terra questionou o quão sensato seria essa ideia, devido às
restrições para viajar, ausência de voos, possibilidade de ficar doente, ou
pior, uma eventual possibilidade de ficar retido em algum lugar sem poder
regressar a casa.
En: For me, a surfer (first) and photographer, these are those moments that
fill life, and lately, I haven't had much of that — traveling, surfing, and
photography. That was the question I asked in those months, after all the
commotion of the covid, bored, sitting in front of a computer. In the current
situation of the spiraling world, without money, quarantines, an imminent
economic crisis, traveling in search of those fleeting moments did not seem to
be a very smart choice.
But then, I got a call from Matchu proposing a trip. For someone like
him, who lives to be on the road exploring different places, those must have
been horrible times. The idea was to go to this wave where he had already been
and which he would like to surf again. The rational side and feet on the ground
questioned how sensible this idea would be, due to travel restrictions, lack of
flights, the possibility of getting sick, or worse, a possible possibility of
being stuck somewhere without being able to return home.
Pt: Mas claro, porque a vida não tem necessariamente que ser lógica,
decidimos que sim, que valeria a pena arriscar. A previsão apontava para duas
boas ondulações, mas havia alguns problemas de logística a serem resolvidos.
Tínhamos convidado alguns amigos para se juntarem a nos e, se eles conseguissem
o único voo internacional existente, esse voo seria praticamente no mesmo dia
da ondulação. Mas, mesmo que o conseguissem, com as ligações entre as ilhas
praticamente inexistentes, “Como é que vamos chegar lá?”, “Por barco” eu disse,
“… tenho um tio que trabalha para uma companhia de barcos e com certeza ele
pode dar-nos uma ajuda para conseguir alguma viagem”.
Num estranho alinhamento de planetas, todas as peças encaixaram-se
perfeitamente e logo estávamos nós embarcando num cargueiro que faz viagens
entre o continente africano e as ilhas, que precisamente tinha uma escala para
fazer. A travessia aconteceu em condições de mar calmo, mas, à medida que nos
aproximávamos do nosso destino, também começamos a sentir a ondulação a chegar.
Fomos avisados pela tripulação que poderíamos não conseguir ancorar devido às
condições do mar perto da terra. Incrível, pensei, nós “nadamos” essa distância
toda só para morrer na areia seca.
En: But of course, because life doesn't necessarily have to be logical, we
decided that yes, it would be worth taking a risk. The forecast pointed to two
good swells, but there were some logistical issues to be resolved. We had
invited some friends to join us and, if they could get the only international
flight available, that flight would be practically on the same day as the
swell. But even if they could, with connections between the islands practically
non-existent, “How are we going to get there?”, “By boat,” I said, “… I have an
uncle who works for a boat company and he sure can. give us a hand to get some
travel”.
In a strange alignment of planets, all the pieces fit perfectly and soon
we were boarding a freighter that makes trips between the African continent and
the islands, which precisely had a stopover to do. The crossing took place in
calm sea conditions, but as we approached our destination, we also began to
feel the swell coming. We were advised by the crew that we might not be able to
anchor due to sea conditions close to land. Incredible, I thought, we “swam”
this far only to die on dry sand.
Pt: Assim que nos aproximamos do porto, entendemos a preocupação da
tripulação; as ondas que passavam ao lado do porto encontravam um fundo rochoso
raso e se transformavam em uma curta, mas intensa laje de direita. Olhando uns
para os outros, compartilhamos descrença, eles pela ideia de surfar logo
no primeiro dia de viagem, eu tentando entender quem teve a ideia de construir
um porto naquele local.
Depois de muitas tentativas e sempre vendo a onda quebrando sozinha,
conseguimos ancorar. Ao sair do barco, a primeira coisa que fizemos? Preparamos
o nosso equipamento e nos encontramos do outro lado da baía, tentando encontrar
um modo de chegar às ondas. Essa onda quebra em mar aberto, a quilômetros da
terra e isso exigia um barco para la chegar. Conversamos com alguns pescadores
e eles ficaram confusos sobre por que iríamos para lá, principalmente com
aquele tipo de condição em que eles preferem ficar em terra.
Não aceitaríamos um “não” como resposta. A história continuará em outro artigo.
En: As we approached the port, we understood the crew's concern; the waves
that passed alongside the port found a shallow rocky bottom and turned into a
short but intense right-hand slab. Looking at each other, we shared disbelief,
they for the idea of surfing on the first day of the trip, me trying to
understand who had the idea of building a port in that place.
After many attempts and always seeing the wave breaking by itself, we
managed to anchor. Upon getting off the boat, the first thing we did? We got
our gear ready and found ourselves on the other side of the bay, trying to find
a way to get to the waves. This wave breaks in the open sea, miles from land,
and that required a boat to get there. We spoke to some fishermen and they were
confused as to why we would go there, especially with that kind of condition
where they prefer to stay on land.
We didn´t take a “No” for an asnwer. The story will continue in another
article.
Fotos: Fninga
Texto: Fninga
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