Museu dos Náufragos

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Quem percorre a vila de Sal rei e se entranha pelas suas ruas estreitas, descobre recantos onde as casas ainda são típicas. Em frente ás paredes e portas carcomidas pelo mineral que dá nome à localidade, ainda se encontram vizinhos em conversas depois do almoço ou aproveitando a brisa do final de tarde. Quando os vizinhos não estão, as portas continuam sempre abertas, hábitos anteriores da tranquilidade do dia a dia de muitos recantos desse nosso Cabo Verde, sinais de tempos passados. Por toda a vila, um olhar um pouco mais curioso também revela, sinais que apontam para um lugar onde se concentram outras formas de relembrar tempos passados, o Museu dos Náufragos, um tesouro que guarda tesouros.




Dentro da sua fachada confeccionada de pedra calcaria branca da região, encontram-se peças que nos relembram a nossa condição de ilhéus e do quanto o mar nos deu forma enquanto povo e cultura, das nossas origens oceânicas, do nosso presente e possibilidade futura enquanto povos do Mar.
Motivado na força das gentes crioulas, pela arte, pela música e na certeza de um possível sentido diferente da humanidade, idealizou o arqueólogo Maurizio Rossi o espaço, como meio de conservação, mas também de conversa e pesquisa. 

Muitos dos objectos são provenientes de naufrágios que foram ocorrendo ao redor da ilha, que como sabemos é rico em eventos do tipo. Em contrapartida existem peças que simplesmente foram recuperadas da lixeira, devido ao desconhecimento do valor histórico bem como da nossa atitude geral no reconhecimento da importância da memoria, atitude existente em todo o Cabo Verde.



Apesar disso, algumas das peças expostas foram sendo adquiridas de forma espontânea, alguns doados pela população, que nas suas casas tinham objetos pertencentes aos seus antepassados, que reconhecem o valor da memória, o valor da existência de um lugar do género. Tal importância que hoje o Museu está num processo de criação de um arquivo museológico junto ao instituto de património cultural, IPC.

Não são só os artigos que contam histórias, de forma criativa, orgânica e em analogia ao percurso humano, o próprio museu é a História. A primeira fase faz alusão ao percurso comum da humanidade da obscuridade à luz, emergindo do fundo do mar, representadas nas obras de arte em pedra basáltica e lava a origem vulcânica das ilhas, os naufrágios, a época sombria do tráfico de pessoas. 
Nos pisos acima, na superfície, a experiência de Cabo Verde e da sua cultura, dos fortes efeitos dos elementos naturais, o vento leste, as ondas que varrem as costas, as cores a música, e o cruzamento dos tempos representadas nas formas de trabalho bem como da pobreza.  As fábulas, as atividades económicas ligadas ao mar, como a caça da baleia, as navegações, a pirataria, todas encontram espaço de realce, como pontos focais de interesse característica históricas que de uma forma ou outra formam a identidade Crioula.





Visitado por curiosos da ilha, turistas, bem como de muitas crianças da ilha em visitas de estudos, o Museu dos Náufragos é um espaço que vale dedicar seu tempo caso visites ou vivas em Boavista. Numa era de imediatismo, este é lugar com um sentimento muito orgânico, que têm latente a paixão das pessoas pelo que fazem e na dedicação que colocaram no projecto, idealizado em 2003 e concluído e inaugurado em 2019. 

Uma local de culto e visita obrigatória para quem respira ar salgado. 


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Texto: Fninga

Imagens: Fninga



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