A Divindade das Coisas Comuns
19:38
Sob o frescor da manhã a existência nos brindava com um novo dia, os primeiros raios de sol, tornavam nítidos os atalhos que nos guiavam ao vale. A brisa soprando da terra, fresca e leve trazia uma fragrância que enchia o ar. Debaixo do céu encoberto a luz tocava o chão, as cores das montanhas eram um vivido castanho, e as arvores permaneciam imoveis.
Debaixo das nuvens que descansavam, a ave de asas longas volitava e havia um silêncio imenso. Um silencio que purificava o coração das coisas. Junto com o seu filhote um burro vagueava. Berrou e o eco encheu o vale, mas foi aceite pelo silencio, era parte do silencio assim como também nós eramos.
Para trás, tocado pela suave luz da primavera ficava a igreja solitária que nos lembrava da dimensão espiritual da realidade, indicação que apesar da nossa incapacidade para compreender os fenómenos da vida, tentamos agarrar o desconhecido.
Apesar das nossas batalhas a natureza permanece na sua qualidade silenciosa. Indiferente às nossas divisões nacionalísticas, religiosas, raciais. Desinteressada dos nossos rituais, teorias, ambições, tradições e qualquer outra tentativa que fazemos de recuperar o básico de nós mesmos.
Na perda do contacto com o viver, tornamos insensíveis à divindade das coisas comuns, das coisas do dia a dia, como se beleza nunca está aqui, como se ela está sempre no alem. Incrédulos da simplicidade do Aqui E Agora. Vagamos em lugares distantes na procura dessa qualidade permanente, enquanto ela se encontra tão perto, e aqui.
Para nos reaviar o facto de que somos UM SÓ SER HUMANO UMA SÓ CONSCIÊNCIA a existência nos enviou um Covid e parou o mundo. Independentemente do teu fuso horário, de seres cristão, muçulmano, hindu, judeu ou ateísta, isso não importa nada. O lugar onde nasceste, a cor da tua pele, o teu conhecimento, as tuas opiniões, a tua orientação sexual, as posições políticas são vazias.
Hoje somos unicamente seres humanos. Aprendemos o valor de um abraço, do partilhar uma tarde com amigos, de estar em família, do ar livre, da liberdade, da importância de estarmos juntos.
Apesar das nossas falhas de forma afetuosa a NATUREZA nos orienta que, por termos perdido o relacionamento íntimo com ela, as igrejas, templos mesquitas se tornaram importantes. Por termos perdido a capacidade de A MAR uns aos outros, fantasiamos sistemas políticos para que possamos viver em harmonia.
Como poderemos revigorar essa intimidade perguntamos?
Podes fazer Surf responde ela.
Feliz Dia Internacional do Surf.
Texto: Fninga
Fotos; Fninga, Adilson Ramos
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