Carta a um irmão do Mar
19:22
Caro Irmão, há muito que se lhe diga, ao mesmo tempo parece não haver muito que se possa dizer.
Ás vezes as coisas não fazem sentido, por vezes a vida toda parece não fazer sentido. No mar tempestuoso não conseguimos ver o encadeamento dos eventos, nem imaginar que um dia as aguas revoltas vão dar lugar ao liso na superfície, que essa força transferida pelo vento vai marchar de forma organizada e ondulada, em direcção às praias, costas, recifes, bancadas onde as ondas morrem (ou melhor transfiguram-se) e onde nascem os surfistas, pessoas como tu.
Nesta era de auto-promoção, do culto do dinheiro, da social mídia cheia de corpos esculturais com pranchas ao lado, de muita gente a parecer ser em vez de ser, custa muito ser assim.
As vezes me sinto a falar para o vazio, mas tu és uma inspiração meu irmão do mar, porque Tu estás lá, de corpo e alma tu estás lá devoto. Um real seguidor dessa divina obsessão que muitas vezes nos cobra o nosso bem estar físico, um pedaço de nós mesmos.
Apesar de tudo, mesmo na incapacidade de tu o fazeres, tu estás la, porque entendes que partilhar a alegria dos outros também nos faz alegres, porque entendes que o que comungamos está alem de eu ou tu, ou do que pensamos ou deixamos de pensar, além de Nós.
Porque independentemente de estares a ganhar algo ou não, és parte.
No teu coração ouves o cântico , não o que vem das sereias ou das conchas, mas o cântico do Mar todo, e eu sei que quando la estás, fazes surfezinho com a alma.
Texto: Fninga
Imagens:Fninga
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