Realidade Paralela

11:07





Porque no final não te vais lembrar do tempo que passaste no escritório ou a cortar relva. Vá e suba aquela maldita montanha.

Jack Kerouac




Depois de vários dias imersos no ambiente da água, após devotar todas as forças e foco na perseguição dos momentos fugazes que as ondas propiciam, via-se na pele o ressequido do Sal, os olhos espelhavam cansaço, mas na alma vibrava a alegria, a excitação da possibilidade de mais.

"Tu parece que estás a viver numa realidade paralela" disse o meu amigo, numa breve conversa antes de entrarmos para a água, para esgotar o que sobrava da energia. Pensei nesse instante na verdade dita, ele não poderia estar mais certo.

O surf sempre foi uma espécie de mundo à parte, os surfistas sempre foram consideradas pessoas que interpretam a vida de forma diferente, (talvez agora nem tanto) e  nos últimos dias tinhamos vivido essa realidade, uma forma de estar desconhecida pela maior parte das pessoas que nos rodeiam. Pulsando ao ritmos das marés, sentido cada nuance do vento, exercitando um acto que convenhamos é inutil para a sociedade.




Mas como podemos definir o ponto de partida a que consideramos uma realidade como  real e a outra como paralela? 

Num mundo em que todos temos contas a pagar e responsabilidades, em que quanto mais acumulares mais bem sucedido és considerado como ser humano, num mundo em que o tempo vale dinheiro, como justificar dedicar tanto tempo a algo que no final do dia é totalmente inutil para o mundo?

Sim claro existem aqueles que vivem profissionalmente do Surf, mas não são essas pessoas que me interessam, elas representam uma parte muito pequena do nosso universo, são meramente 1% da populacao surfistica. Falo de nós, dos comuns mortais que estão constantemente na dança entre o tempo para as exigências do mundo, as ondas o vento, a tentar encontrar aquela brecha no calendário para salgar a alma.

Uma vida de Surf não é tudo, nem jamais o poderia ser, a existência têm várias dimensões. Nem poderia ser a vida somente trabalhar, há que encontrar um equilibrio entre ambos.

Há um pratica Budista, um principio orientador chamado de "Caminho do Meio" que basicamente é um caminho de moderação e de distanciamento dos extremos, uma forma de equilibrio entre opostos. Os Surfistas são o melhor exemplo disso (ou podem ser), quando passamos as nossas vidas a dançar nesse caminho do meio que é o encontro entre a terra e o mar. Estamos constantemente a brincar com o equilíbrio entre a realidade do mundo da familia, do trabalho, das contas por pagar e a realidade paralela que é andar a perseguir as ondas e o vento.

Mas acredito que realidade de uma vida perto da Natureza nos aproxima ao que temos de mais profundo em nós mesmo. Mais do que a vida das cidades cheias de gente vazia, da constante procura por mais e mais, pelo mundo da aparência bonita sem conteúdo, por estar sempre a produzir...

Aqui algumas fotos de alguns momentos em que conseguimos encontrar aquela brecha no calendário dos momentos que equilibramos os dois mundos.






Texto:Fninga
Fotos: Fninga





You Might Also Like

0 comentários

Publicação em destaque

Joselito o Shaper Kriol

Joselito do Rosário é um shaper Cabo-verdiano, estabelecido em Portugal e ultimamente tem se tornado proeminente na cena surf nacional. ...