A
onda em si não tinha nada de especial, em comparação com as outras
que entravam durante os sets, nem era das melhores, só exigia
bastante pelo facto de aquela ser rápida. Mais por instinto de sobrevivência do que propriamente livre vontade, fui compelido a
mudar de linha e descer para o bottom turn como forma de escapar ao
efeito da gravidade que fazia a agua cair e ultrapassar a secção em
frente.
Já na base da onda, pousei o olhar no lip, a luminescência do final da
tarde entrava pela parede e a agraciava numa textura de cristal que reflectia cores extraordinárias, impossÃveis de reproduzir em qualquer
outro instante. Ouvi um grito vindo da praia, daqueles que se ouvem
quando alguém executa uma manobra critica ou sai de um tubo, mas não
era nada disso. Quem quer que tenha sido a pessoa, apesar de estar
numa posição totalmente diferente da minha, tinha sido tocado pelo
mesmo momento...a beleza do sol por trás da onda.
Na
maior parte das vezes, estamos focados no desempenho a pensar em que fazer, em tirar o maior proveito e encaixar o maior numero de curvas
no curto tempo que temos na ondas. Não há nada de errado em ter uma
sessão de surf, ou pelo menos parte dela em que o ponto central seja
a performance, mas é preciso contemplar. Penso que o surf foi
confiscado pelo aspecto competitivo, consequentemente pelo modelo de
surf que se encaixa dentro perspectiva, frenético. Surfamos como se tivéssemos pressa, gladiamos para estar melhor posicionados, e nessa
tentativa de imitar aquilo que nos é oferecido como padrão e nesse
processo perdemos grande parte dessas qualidades intrÃnsecas ao surf,
a qualidade meditativa e contemplativa.
Explico:
Texto: Fninga
Fotos: Fninga